domingo, 7 de junho de 2009

...e o tempo não levou.


Talvez o primeiro filme que traduza o significado da palavra épico. Grandioso, grandiloqüente, gigante, fabuloso, fantástico e outros adjetivos sempre são utilizados quando se fala de “...E o Vento Levou.” Muitas vezes nenhum deles consegue traduzir tudo o que o filme representa para o cinema. Baseado no romance da escritora americana Margaret Mitchell, considerado infilmável por muitos estúdios, mas foi levado a cabo pela teimosia de David O. Selznick. O produtor ficou com tantas dívidas após o filme, devido aos impostos sobre um êxito tão grande, que quase foi a falência. Conseguiu se recuperar, mas nunca mais conseguiu um sucesso igual.

Passado na época da Guerra da Secessão, um capítulo triste na história dos Estados Unidos, o filme começa com uma grande festa no sul dos Estados Unidos, que era a favor da manutenção da escravidão e desafiava o desenvolvido norte do país. Na verdade os sulistas tinham convicção que venceriam a guerra, mas não sabiam que seus recursos não seriam suficientes para manter um conflito muito longo.

Neste cenário é que surge a mimada Scarlett O’Hara, interpretada pela belíssima inglesa Vivien Leigh. Filha do poderoso fazendeiro Gerald O’Hara (Thomas Mitchell), Scarlet é cobiçada por todos os rapazes da sua cidade e utiliza isso para seu proveito próprio. Porém aquele que ela ama já está prometido a outra moça, a recatada e boa moça Melanie Hamilton (Olivia de Havilland). Ashley Wilkes é herdeiro da fazenda Twelve Oakes e um dos poucos que enxerga o fracasso na empreitada de vencer o sul, mas não desiste de seus pares e parte para a guerra.

Enquanto declara seu amor por Ashley Wilkes escondida na biblioteca da fazenda de Twelve Oakes, Scarlett conhece por acidente o aventureiro Rhett Butler (Clark Gable), que também fica hipnotizado pela beleza de Scarlett, mas não sabe que tentará até o fim da história conquistar seu amor.

Estes são os principais personagens desta história que mostra o que aconteceu antes, durante e depois da Guerra da Secessão e de como os americanos se dividiram em ganhadores e perdedores. Talvez daí tenha surgido a divisão dos valores americanos e sua eterna divisão entre winners e losers, hoje sendo utilizada para determinar os que têm e os que não têm dinheiro.

Mas a estrela principal que conduz a narrativa é Scarlett O”Hara, antes da guerra ela é uma menina mimada que enxerga apenas seu desejo de casar com Ashley Wilkes e para isso fará de tudo. Durante a guerra, a realidade se impõe e mesmo tentando fugir dela de diversas formas, Scarlett se rende, principalmente à fome, e faz o famoso juramento por Tara, que traduz uma Scarlett madura, mas que ainda mantêm a sua essência voluntariosa. Após a guerra, Scarlett ainda tenta de todas as formas conquistar Ashley Wilkes, mesmo casando duas vezes, apenas para manter-se rica e poderosa.

O interessante é que a única pessoa realmente pura e boa do filme é a personagem de Olívia de Havilland, Melanie Hamilton, que passa o filme inteiro sendo ajudada e ajudando Scarlett O’Hara e mesmo sabendo que a amiga cobiça seu marido, continua sendo fiel a seus princípios, perdoando-a quando toda a sociedade conservadora sulista se volta contra Scarlett. Mesmo assim ela é única do elenco central que morre durante o filme.

Rhett Butler (Clark Gable) também sofre o diabo na mão de Scarlett, sempre tentando a todo custo conquistar o amor da empedernida moça sulista. Mas no final percebe que não conseguirá seu intento e ao sair de casa profere uma das frases mais famosas do cinema: “Sinceramente querida, eu não dou a mínima.”.

Scarlett O’hara representa a anti-heroína americana, surgida no pós-guerra que faz de tudo para sobreviver, Melanie Hamilton representa a bondade que nunca vence e Rhett Butler representa o aventureiro que nunca conseguirá ser um cidadão modelo, mesmo tentando muito.

Enfim, um filme maravilhoso que faz valer à pena suas mais de quatro horas de projeção. Dificilmente acontecerá um filme como esse na Hollywood de hoje. Talvez o último tenha sido Titanic, com a grandiosidade do primeiro, mas sem a profundidade de “...E o Vento Levou.”.

Ficha Técnica: …Gone With The Wind. (1939) Direção: Victor Fleming (Sam Wood e George Cukor, não creditado), Roteiro: Sidney Howard – Elenco: Clark Gable, Vivien Leigh, Olivia de Havilland, Leslie Howard, Thomas Mitchell, Barbara O’Neil, Victor Jory, Evelyn Keyes, Hattie McDaniel, Ann Rutherford, George Reeves, Fred Crane e Ona Munson.

Fonte: Coleção Folha Clássicos do Cinema.
Imagens: Google.

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